segunda-feira, 20 de julho de 2009

Rochas e "tilt" dificultaram chegada do homem à Lua; conquista completa 40 anos

(Folha) Como na imensa maioria dos filmes de aventura norte-americanos, pode haver pedras ou uma pane de computador no meio do caminho, mas, no fim, tudo acaba bem. Apesar de ser considerada tranquila, a viagem da Apollo 11 teve alguns percalços até o pouso na Lua, às 17h17 no horário de Brasília do dia 20 de julho de 1969.

Duas horas antes, o Módulo Lunar, apelidado de Eagle, que efetivamente levou os astronautas até o solo lunar, havia se separado do Módulo de Comando e Serviço --este continuou em órbita na Lua, com o astronauta Michael Collins a bordo. Enquanto isso, Neil Armstrong e Buzz Aldrin desceram até a superfície.

Quando estava a cerca de 100 metros do solo, os astronautas perceberam que o local de pouso previsto tinha muitas pedras, o que poderia danificar a nave. Armstrong, comandante da missão, passou a pilotar o módulo manualmente, procurando o local mais adequado. Por isso, quando o Eagle pousou, havia combustível suficiente para apenas 30 segundos de voo.


Pegada deixada no solo da Lua por astronauta da Apollo 11



Além disso, durante o pouso, o computador passou a emitir alarmes, em razão de estar sobrecarregado. Entretanto, a nave conseguiu descer com sucesso no local conhecido como "Sea of Tranquility" (mar da tranquilidade, em tradução livre). "Houston, estamos na Base Tranquilidade. O Eagle pousou", afirmou Armstrong ao centro de controle da Nasa na cidade do Texas. "Tem um monte de caras aqui ficando quase azuis. Estamos respirando novamente", afirmou um dos controladores.

Às 23h56, Armstrong deixa a nave e se torna o primeiro homem a pisar na Lua. Ele e Aldrin exploraram o satélite por duas horas e meia, coletando amostras e tirando fotografias --apesar de o comandante ter afirmado que aquele era "um grande passo para a humanidade", os astronautas trataram de fincar uma bandeira dos Estados Unidos no local.


Neil Armstrong trabalha no solo lunar, que recebeu bandeira dos EUA



Descobertas
Por meio de amostras lunares coletadas durante o programa Apollo, foi possível confirmar, por exemplo, que o solo do satélite é composto de material rochoso, que sofreu intensa influência e atividades vulcânicas e impacto de meteoritos, com uma grossa crosta de 60 km. Os estudos também indicam que as rochas tem entre 3,2 bilhões e 4,6 bilhões de anos. Além disso, também indicaram que Terra e Lua têm uma origem comum.

E, para infelicidade dos caçadores extraterrestre, também foi confirmado que a Lua não tem qualquer sinal de vida ou compostos orgânicos, considerados essenciais para a existência de vida.

Política e ciência
Para Samuel Rocha de Oliveira, professor de física no Museu Exploratório de Ciência da Unicamp, a "conquista da Lua" teve grande importância do ponto de vista científico, além da questão política. "O mais importante é o avanço tecnológico necessário para chegar lá", diz. "Você tem uma série de materiais que foram produzidos para ser resistentes a diferenças de temperaturas, o domínio dos combustíveis para funcionar fora da gravidade da Terra."

"É evidente que essa é uma conquista científica, mas tem também um significado histórico, filosófico. Ajuda na compreensão do Universo, de que céu e Terra são feitos da mesma matéria, de que o espaço não é algo sobrenatural", afirma José Luis Goldfarb, professor de história da ciência da PUC-SP.


Técnicos do centro de controle comemoram sucesso da missão

Goldfarb ressalta também a importância da corrida espacial para esse desenvolvimento --com uma disputa clara, os países eram obrigados a fazer grandes investimentos. Depois desse período, as verbas minguaram e a Nasa convive constantemente com problemas de orçamento para novas missões.

Durante a corrida espacial, a Nasa recebeu tratamento especial, ganhando um "cheque em branco". Mas, em 1970, o presidente Richard Nixon determinou que o órgão fosse tratado como todas as outras agências federais.

"A corrida exigiu, tanto por parte dos americanos quanto dos soviéticos, um estreitamento de vários setores da ciência. Você precisava criar tecnologia para vestir o astronauta, para alimentação, a dar condições de vida em um lugar pequeno, a adotar alvos certeiros", diz o pesquisador.

Volta para casa
Depois de voltarem ao Eagle, Armstrong e Aldrin iniciaram uma subida rumo à órbita da Lua, onde se encontraram com Collins, que estava no Módulo de Comando e Serviço. Os três iniciaram a volta a Terra e pousaram, com sucesso, às 13h50 (Brasília) do dia 24 de julho, no oceano Pacífico, próximo ao Havaí, após 8 dias de missão. A cápsula em que eles estavam pousou com o uso de paraquedas e eles foram resgatados por meio de barcos.

Astronautas da Nasa ainda voltaram à Lua outras cinco vezes, entre 1969 e 1972, nas missões Apollo 12, 14, 15, 16 e 17. Ao todo, 12 homens tiveram o privilégio de andar no local --as naves levavam sempre três tripulantes, mas um ficava em órbita e não pousava no satélite.

Futuro
Desde 1972, o homem não põe os pés ali. Oliveira, da Unicamp, minimiza a importância de enviar continuamente astronautas ao local. "O importante foi chegar. O resto das observações pode ser feita por meio de robôs, sem presença humana. Um outro patamar seria construir algo ali, uma estrutura de permanência por um período maior. Aí sim você precisaria de mais gente para essa montagem", diz.



Richard Nixon visita astronautas, que ficaram em quarentena após a missão


A agência espacial americana analisa o reenvio de astronautas ao único satélite natural da Terra até 2020, dentro do projeto de exploração lançado em 2004 pelo ex-presidente George W. Bush.
No mês passado, a Nasa lançou duas sondas que vão explorar a Lua em busca de água, locais de alunissagem e diversos dados científicos para preparar a volta dos americanos ao local.
Novas naves, integrantes do programa Constellation, também estão sendo desenvolvidas para esse tipo de viagem, mas a agência sofre com cortes de verba e encontra dificuldades para construir essa nova geração de veículos espaciais.

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