quinta-feira, 26 de abril de 2012

O teste de DNA da Lua


(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Você sabe como a Lua se formou? De acordo com as teoria mais aceita, um corpo celeste com o tamanho aproximado de Marte, chamado Theia, se chocou violentamente com a Terra. Simulações em computadores mostram que essa é uma teoria plausível, após uma colisão gigantesca como essa, há 4,5 bilhões de anos, material terrestre (basicamente rocha derretida, como lava vulcânica) se destacou da Terra, formando um anel ao seu redor e posteriormente se aglutinou num corpo separado que finalmente se resfriou, tornando-se a Lua. Tudo isso teria acontecido nos primórdios do Sistema Solar. Mesmo sem nenhuma evidência da existência de Theia, essa é a teoria mais aceita: a Lua teria pai e mãe.

Ou era, pelo menos.

Se dois objetos deram origem a Lua, seria esperado que ela tivesse características de ambos objetos, da Terra e de Theia, da mesma maneira que qualquer ser humano recebe a carga genética do pai e da mãe. Mas não foi isso que um teste de “paternidade” feito com material lunar revelou.

Um time de pesquisadores da Universidade de Chicago analisou amostras do solo lunar trazida pelos astronautas da Apollo na década de 1970. Essas amostras já foram analisadas várias e várias vezes, mas esse estudo traz uma novidade – os pesquisadores focaram o trabalho nos isótopos de titânio. A razão para se basear nesse elemento é que ele é altamente refratário. Em outras palavras, mesmo em altíssimas temperaturas, ele permanece sólido ou, no máximo, se derrete, enquanto outras substâncias já teriam se vaporizado. Com isso, é esperado que mesmo que um impacto violentíssimo tenha arrancado material em altíssima temperatura, o titânio não se perderia. O material ejetado teria carregado o titânio da Terra, diluído pelo material de Theia que teria se misturado a ele.

Mas as análises das amostras trazidas pelas Apollos 15, 16 e 17 resultaram em uma quantidade de titânio idêntica à quantidade desse mesmo elemento na Terra! Isso significa que não houve qualquer mistura de material de um segundo corpo, eliminando a necessidade da existência de Theia. Esse é um duro golpe na teoria padrão de formação da Lua.

E agora?

Três possíveis cenários foram levantados pelo time de cientistas de Chicago, mas nenhum deles é muito convincente. No primeiro, o impacto teria sido tão violento que até mesmo o titânio teria se vaporizado e, assim, tanto a Terra quanto Theia e mesmo a Lua teriam misturado seus materiais a ponto do titânio ter se depositado em quantidades iguais nos três corpos. Mas, nesse caso, as simulações mostram que o material ejetado teria voltado quase todo para a Terra. A Lua seria muito menor do que é, e talvez nem mesmo existiria.

A segunda hipótese sugere que a Terra e Theia teriam a mesma composição química. Isso também é altamente improvável, já que a Terra se formou a partir de impactos de milhares de corpos celestes com diferentes composições químicas. O mesmo não poderia ter acontecido com Theia.

A última das hipóteses sugere que um objeto composto unicamente por gelo, sem nenhum titânio, teria se chocado com a Terra. Mas um objeto como esse não existe no Sistema Solar. Qualquer objeto rico em gelo possui um núcleo rochoso, que teria deixado sua assinatura na formação da Lua.

Moral da história: depois de 40 anos, as amostras trazidas pelas missões Apolo puseram em xeque a teoria mais aceita para a formação da Lua. Mesmo depois de tanto tempo elas se mostraram importantíssimas. Além disso, quem trabalha na área vai ter muita coisa para fazer.

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