segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Nasa encontra dados perdidos de missões à Lua

Um conjunto de dados científicos recolhido pelas missões Apollo, até então considerado perdido, foi redescoberto pela Nasa e resultou num estudo que revela o ritmo em que a poeira se acumula no solo lunar.



(Diário Digital - Portugal) Claro, esses dados nem deveriam existir se as viagens que levaram homens à Lua entre 1969 e 1972 não passassem de uma fraude criada pelo governo americano para enganar o mundo.

J. O'Brien foi um dos cientistas que trabalhou no planeamento das experiências científicas do Projecto Apollo. Nas discussões iniciais, os investigadores já imaginavam que a poeira lunar fosse causar alguns problemas - embora não tanto quanto os astronautas acabaram por enfrentar, com um material que aderia a qualquer superfície.

A maior preocupação com a poeira era de ordem científica. O medo era que, com a descolagem do módulo lunar, grande quantidade de poeira fosse levantada da superfície e acabasse por aderir aos instrumentos deixados na Lua, prejudicando o seu funcionamento. «Fiz então uma pergunta que julguei muito básica», diz O'Brien. «Se temos de resguardar-nos dos danos causados pela descolagem do módulo lunar, quem está a medir se algum dano realmente aconteceu; quem está a medir a poeira?»

O'Brien ficou encarregue de desenvolver uma pequena experiência para investigar a quantidade de poeira lunar que se acumula sobre uma dada superfície. O pequeno dispositivo que criou, chamado de Lunar Dust Detector, consistia em três pequenos painéis solares instalados sobre um pacote maior de instrumentos. Conforme a poeira fosse se juntando sobre os painéis, menos eficientes estes se tornariam, e seria possível calcular quanto material estava a cobri-los.

Pesando modestos 270 gramas, o instrumento voou em três diferentes missões: Apollo 12, 14 e 15. A primeira voou em 1969 (segunda aterragem lunar tripulada bem-sucedido), as outras duas em 1971. Detalhe: os equipamentos permaneceram a recolher dados até 1977, quando a Nasa decidiu não mais financiar a monitorização.

Na época do Projecto Apollo, fazia todo o sentido medir os efeitos da poeira lunar, uma vez que parecia que viagens e experiências em solo lunar se tornariam comuns. Com a decisão de cancelar o programa, tomada ainda em 1970, ficou cada vez mais claro que o problema da poeira lunar não teria mais importância para o futuro imediato da Nasa.

As fitas magnéticas que pacientemente registaram as leituras do Lunar Dust Detector perderam-se, em meio à imensa burocracia da agência espacial americana. Saltamos então para 2013. A Nasa «despacha» uma nova sonda para a Lua, chamada Ladee, que vai estudar justamente a atmosfera de poeira que circunda o nosso satélite. O regresso do interesse pela poeira lunar não é coincidência.

Quando a Ladee foi planeada, o plano em vigor era o Projecto Constellation, que levaria astronautas de volta à Lua até 2020. Foi nessa onda de regresso à Lua que a agência se deu conta de que os dados originais que já tinha sobre esse assunto foram perdidos, sem sequer terem sido analisados apropriadamente.

Em 2006, O'Brien fica a saber que a Nasa perdeu os dados da sua experiência e (surpresa!) revela à agência que ele tinha um conjunto de cópias das fitas. Acto contínuo, ele passou a analisá-las, em parceria com Monique Hollick, que trabalha com ele actualmente na Universidade do Oeste da Austrália, em Crawley. O resultado é o trabalho publicado pela dupla, que revela como a poeira se espalha pela superfície da Lua.

A análise mostra que o ambiente lunar é o sonho dourado de qualquer dona-de-casa. Para que uma camada de poeira de 1 milímetro de espessura se forme sobre uma superfície na Lua, é preciso esperar cerca de mil anos. O curioso é que, embora seja bem pouco pelos padrões terrestres, isso é 10 vezes mais do que as estimativas anteriores. E também é o suficiente para causar problemas para painéis solares instalados na Lua.

Como não há atmosfera gasosa no nosso satélite, especulava-se que a circulação de poeira fosse produzida somente por impactos de meteoritos e pela queda de pó de origem cósmica. Mas os «novos velhos» dados mostram que só isso não seria suficiente. O'Brien especula que um fenómeno de origem electromagnética (em que a poeira ganha carga positiva no lado iluminado da Lua e carga negativa no lado escuro, resultando num levantamento de poeira na região do terminador, que divide o lado escuro do claro) possa explicar o efeito aumentado. É um fenómeno que a LADEE tentará confirmar.

Aliás, uma das motivações para a missão é explicar uma observação dos astronautas da Apollo em órbita lunar.
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Lua empoeirada (Fundação Planetário)

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