terça-feira, 15 de julho de 2014

Chineses a caminho da Lua


(Mensageiro Sideral - Folha) Se você ainda tinha dúvidas de que os chineses estão falando sério em promover a colonização da Lua, escute esta: eles acabaram de realizar um teste de 105 dias de um protótipo do sistema de suporte de vida de sua primeira base lunar.

Três voluntários — um homem e duas mulheres — foram trancafiados durante pouco mais de três meses num habitat de 160 metros quadrados montado na Universidade de Pequim. O experimento foi concluído no dia 20 de maio, e agora os chineses confirmam que tudo transcorreu conforme suas expectativas.

Pode parecer uma coisa pouco sofisticada, considerando que astronautas e cosmonautas passam meses e meses “trancafiados” na Estação Espacial Internacional (ISS) desde 2000. Mas este caso é bem diferente. O sistema chinês, apropriadamente batizado de Lunar Palace 1 (acredite se quiser, mas o Palace é um acrônimo para Permanente Astrobase Life-support Artificial Closed Ecosystem), é fechado. O que isso quer dizer? Em essência, que o ar e a água são reciclados por mecanismos internos, e a “tripulação” também produz seus próprios alimentos localmente.

Nesse sentido, é um sistema muito mais sofisticado que o da ISS, onde ar, água e alimentos são constantemente reabastecidos a partir da Terra para a manutenção da habitabilidade. A ideia é que o habitat chinês, composto por três módulos, seja autossustentável.

AGORA VAI?
Em essência, a ideia se parece muito com a da Biosfera-2, imensa instalação construída no Arizona que tinha a mesma ambição, com a diferença de que no projeto americano tudo que tinha para dar errado deu. No caso chinês, pelo menos nos 105 dias de duração do experimento, aparentemente tudo correu bem.

Dos três módulos, dois são dedicados ao cultivo. É dessas plantas, iluminadas artificialmente, que veio a maior parte da alimentação dos tripulantes. Como fonte adicional de proteína, os chineses também cultivavam… minhocas. Yuck! Mas quem experimentou diz que elas têm gosto de batata frita. Será? Seja qual for o sabor, dizem que elas são uma ótima fonte de proteínas.

A produção interna respondeu por 55% do total consumido. Os 45% restantes foram abastecidos de fora e consistiam predominantemente em carne, segundo a CMSE, Engenharia Espacial Tripulada da China.

O oxigênio era produzido pelas próprias plantas, e a água era inteiramente reciclada. Fezes viraram adubo. E por aí foi. Com o sucesso inicial, a ideia é ir sofisticando o sistema para testes em ambiente espacial — primeiro em órbita terrestre e, futuramente, na Lua.



DE OLHO NA LUA
O programa de exploração lunar chinês continua nos trilhos. O primeiro jipe robótico deles, o Yutu, chegou ao solo do nosso satélite natural em dezembro do ano passado e até agora ainda funciona — embora tenha se tornado uma espécie de “morto-vivo” após o primeiro mês de operações, quando seus sistemas móveis pifaram. Sem poder ir de um lugar a outro, acabou se tornando meio inútil para exploração. Virou basicamente um teste de resistência de seus componentes individuais.

A China já planeja um segundo jipe do mesmo tipo para o ano que vem e a missão seguinte — Chang’e-5 — deve realizar um retorno de amostras, antes de 2020. O Mensageiro Sideral deu uma olhada no diagrama da espaçonave projetada para a missão e é de arrepiar — parece um modelo em miniatura dos módulos lunares do Projeto Apollo, que levaram os americanos à Lua entre 1969 e 1972!

Está cada vez mais claro que os chineses têm um plano consistente e metódico para se estabelecer na Lua, possivelmente antes que vejamos o fim da década de 2020. A essa altura é muito improvável que os primeiros exploradores a caminhar sobre o solo lunar no século 21 não sejam mesmo taikonautas.
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E mais:
Base lunar da China é testada com sucesso na Terra (Inovação Tecnológica)

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