Amostra de pedra lunar dá pistas sobre familiaridades com a Terra.Ideia de ‘conquista do espaço’ era, no final das contas, exagerada.
(The New York Times / G1) Em abril de 1972, John Young e Charles Duke coletaram uma rocha preta-azulada enquanto andavam pelas elevações da Lua. Não era uma rocha particularmente bonita. Sua superfície vítrea era furada e irregular. Era como se tivesse sido expelida por uma cratera ali perto. As elevações estavam cheias de rochas como essa.
Os astronautas trouxeram essa pedra, e mais 90 quilos de outras rochas para a Terra, como recordação da Apollo 16. No Lunar Receiving Laboratory, em Houston, cientistas verificaram que a Gênese Azul, como a rocha foi batizada, pesava 5,5 quilos. A peça foi cortada em pedaços e enviada para estudos. Geólogos estimaram que ela tinha 4,23 bilhões de anos.
Desde 1981, um pedacinho daquela rocha mora, como uma lasca de queijo velho – um recheio irregular cinza-claro dentro de uma casca escura –, no Museu Americano de História Natural, em Manhattan.
Conheci a peça há algumas semanas. Eu estava tentando entender o fato de que já faz 40 anos que Neil Armstrong deixou aquelas primeiras pegadas no solo lunar, em 20 de julho de 1969.
O primeiro pouso lunar foi um ponto de exclamação na história da humanidade e deve ter causado a sensação da realização dos sonhos de ficção científica da infância. No entanto, eu me lembro de ter ficado decepcionado, na época, com a chegada do homem à Lua. Observando sombras embaçadas na televisão do meu vizinho, eu mal sabia dizer o que estava se passando.
Depois da viagem triunfante da Apollo 8 ao redor do satélite natural, no Natal do ano anterior, a real alunissagem parecia frustrante e robótica. Além disso, sentíamos culpa por estarmos empolgados com algo que tinha pouca relação com o que acontecia nas ruas do nosso país, onde a oposição à Guerra do Vietnã e a luta pelos direitos civis consumiam toda a energia.
É claro, como a criança que reclama que a comida é ruim e as porções, pequenas demais, eu lamento que todo o programa Apollo tenha acabado tão cedo. O último terráqueo deixou a Lua em 1972, e desde então ninguém foi mais longe do que a baixa órbita da Terra (quanto mais em Marte, o próximo passo mais lógico).
Já fui o maior fã da Nasa. Meu livro comemorativo do colegial diz que minha ambição era “ir às estrelas”. Fiquei empolgadíssimo quando o presidente John F. Kennedy anunciou que chegaríamos à Lua.
Mas, no verão de 1969, eu tinha outras prioridades. O presidente Richard Nixon tinha sido eleito numa plataforma de lei e ordem – em todos os lugares, como vimos depois, menos na Casa Branca. Seu nome estava na placa da Tranquility Base, na Lua, que dizia: “Viemos em paz para toda a humanidade”. As palavras de Nixon pareciam vazias.
Naquela época, já tinha descoberto que o programa Apollo não tinha tanto a ver com a ciência – tinha a ver com derrotar os russos.
Venho resmungando sobre isso desde aquela época. Então, fui ao museu em Nova York. O movimento é relativo, afinal de contas. Se eu não poderia ir à Lua, pelo menos uma parte dela poderia vir até mim.
Rochas familiares
O geólogo Denton Ebel me levou a um display no corredor de meteoritos, onde três rochas lunares estavam protegidas sob cubos de plástico. Elas tinham mais ou menos o tamanho de uma noz.
O mais impressionante é que elas pareciam simplesmente rochas. Elas não eram verdes, com formas estranhas, ou brilhantes. Duas delas eram de basalto. Pareciam pequenas esponjas acinzentadas, as rochas que formam as bacias oceânicas e que é possível coletar no Havaí ou na Islândia.
Mas é exatamente esse o ponto: as rochas lunares parecem familiares porque elas são de casa. A Lua, segundo teorias, foi criada quando um objeto do tamanho de Marte colidiu com a Terra, em seus primórdios, há cerca de 4,5 bilhões de anos, liberando uma enorme nuvem de detritos. Essa teoria é defendida por análises isotópicas das rochas lunares.
A terceira rocha era aquele pedacinho com uma crosta negra, da Apollo 16. Também familiar. O mesmo tipo de rocha, conhecida como anortosito, é encontrada em cadeias montanhosas. A crosta negra é vidro, formado pelo calor e derretimento subsequentes, e os grãos ali dentro mostram evidência de ondas repetidas de choque.
A rocha estava ali, exposta na superfície da Lua, havia cerca de dois milhões de anos, segundo uma análise de raios cósmicos que a atingiram. Isso contradiz outra idade obtida por meio da contagem de marcas causadas por micrometeoritos na superfície vítrea da rocha, sugerindo que ela tenha sido bombardeada por essa chuva abrasiva há “somente” 100 mil anos. O fundo da Gênese Azul, no entanto, é completamente liso. O outro lado esteve exposto tempo suficiente para que sua camada vítrea fosse desgastada, processo que Ebel chama de “erosão espacial”.
As origens da rocha estão escondidas na poeira lunar. A peça pode ter vindo de uma cratera. No entanto, outra possibilidade é que a Gênese Azul tenha sido somente um pedaço de uma rocha maior.
“A história da Lua é de bombardeamentos, e existem fragmentos de fragmentos de fragmentos da rocha lançada pela explosão da rocha original”, explica Ebel.
Na saída do museu, parei diante de um display com fotografias lunares gigantes, tiradas pelos astronautas da Apollo: pegadas e bandas de rolamento pneumático seguindo pela paisagem lunar suavemente elevada; Eugene Cernan, astronauta da Apollo 17 e último homem na Lua, sentado em seu módulo lunar, com riscas de sujeira lunar.
Ele parecia tão exausto e humano, naquela paisagem não-humana, tão longe de casa. Ainda assim, sabemos que, numa escala maior, ele mal fez cócegas no cosmo. Se é que aprendemos algo com a Apollo, foi simplesmente como seria difícil, caro e perigoso cruzar o espaço em foguetes. Não conquistamos o espaço naquele dia de julho, há 40 anos. Só achávamos que sim.
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