sexta-feira, 18 de julho de 2014

Os 45 anos da conquista da Lua

(Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil) Exatamente às 17 horas, 17 minutos e 43 segundos (horário de Brasília) da tarde de 20 de julho de 1969, pela primeira vez na história da civilização, uma pegada humana marcou a superfície de outro astro, além da Terra.

Na tarde deste domingo, um dos maiores feitos da história da ciência completa 45 anos.

As pegadas foram produzidas pelas botas espaciais do comandante da missão Apollo 11, Neil Armstrong (1930- 2012), seguido pelo seu companheiro de pouso Edwin “Buzz” Aldrin, enquanto o terceiro membro da missão, Michael Collins, permanecia a bordo da nave de retorno à Terra, circulando em órbita lunar.

A descida, saudada com a frase que ficou para a história: “um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade” marcou o ápice de um processo que havia começado com o lançamento do Sputnik-1, o primeiro satélite artificial da Terra, pela União Soviética, em 7 de outubro de 1957.

O feito dos soviéticos foi recebido com surpresa e receio nos Estados Unidos que trataram de acelerar os processos para também enviar um engenho do mesmo tipo em órbita da Terra.

Os americanos receberiam um segundo e ainda mais surpreendente golpe, em 12 de abril de 1961, quando a União Soviética anunciou o vôo do primeiro astronauta (cosmonauta) russo, Iuri Gagárin (1934-1968).

O período era marcado pela guerra fria, o potencial confronto nuclear entre a então União Soviética e seus aliados e os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Nesse contexto, os feitos no espaço eram utilizados como forma de propaganda por cada uma das potências, interessadas em demonstrar eficiência sobre sua oponente.

Análises simplistas tendem a considerar que “a conquista da Lua” foi resultado de uma queda de braço militar entre União Soviética e Estados Unidos, mas esse é um equívoco produzido por uma consideração reducionista quanto à complexidade da história.

O contexto teve como cenário de fundo um conflito potencial, mas ela apenas acelerou uma tendência natural de avanço que começou desde que os humanos deixaram seu berço ancestral, na África e, possivelmente, ao mesmo tempo, também no Sul da China.

A história dos vôos tripulados à Lua, que se estenderam até a Apollo 17, em dezembro de 1972, de forma algo perturbadora revela que, de alguma maneira, já estivemos no futuro e, de lá, retornamos ao passado a bordo de uma surpreendente máquina do tempo.

A Lua esquecida
Com a Apollo 17 − lançada em 7 de dezembro de 1972 e que pousou sua tripulação no mar, em 19 de dezembro – a Lua foi literalmente esquecida, como se, durante os anos 60, não tivesse sido a obsessão que consumiu bilhões de dólares em recursos e esforços até então inéditos na historia da ciência e tecnologia.

Por que a Lua foi esquecida?

A resposta para uma pergunta como essa é que o satélite da Terra, conquistado por uma tripulação americana, simplesmente deixou de ser uma meta política, ainda que, de um ponto de vista estritamente científico, ainda hoje não estejam encerradas as controvérsias envolvendo sua origem.

A teoria que prevalece hoje, remanescente das três principais originalmente propostas, considera que, na sua juventude, a Terra foi atingida por um bólido cósmico, um corpo do porte de Marte, que arrancou uma porção de sua matéria e a ejetou no espaço, onde um processo de condensação gravitacional deu origem à Lua.

Em vez da Lua, o que atrai as atenções e esforços neste momento é Marte, um mundo mais apropriado à ocupação humana que a Lua, mais estéril que o mais agressivo deserto da Terra.

Em Marte, sucessivas missões pousaram na superfície do planeta utilizando paraquedas e isso porque o planeta dispõe de uma atmosfera, mesmo rarefeita e com apenas traços de oxigênio, elemento liberado pelas formas de vida na Terra e indispensável à respiração de mamíferos como os humanos.

Em escala mais complexa, no entanto, a tendência é a Lua atuar como uma espécie de trampolim para Marte, em rotas que, no futuro nada distante, tende a fazer desse planeta vizinho uma espécie de “novo mundo”, tal como, no passado, ocorreu com a ocupação e colonização da América.

Um crítico apressado pode argumentar que a escala de desafios comparativos é muito maior, o que não deixa de ser verdade.

Mas também é verdade que a saga do espalhamento dos humanos sempre superou os obstáculos mais desafiadores: do grande vazio dos oceanos ou as vastas extensões de gelo e desertos.

Daí a beleza da expressão criada pelo pai da astronáutica, o russo Konstantin Tsiolkvski: “a Terra é o berço dos humanos, mas ninguém pode viver eternamente no berço”.

Qual a importância da Lua para a Terra, além de fonte de inspiração romântica e efeito maré que eleva as águas e mesmo a porção sólida da Terra?

Estabilizadora da Terra
A resposta é que, na ausência da Lua, poderíamos nem estar aqui, escrevendo ou lendo um texto sobre o quadragésimo quinto aniversário de sua “conquista”.

A Lua, desde que colocou ao lado da Terra, compondo um sistema planetário duplo, atuou como um escudo contra bólidos que chegaram e continuam a vir do espaço profundo. Entulhos que sobraram da formação do Sistema Solar há 5 bilhões de anos, como cometas e asteróides.

A superfície craterada da Lua, visível por telescópios de pequeno porte, é uma clara evidência de que, na ausência dela, boa parte desses impactos teria atingido a Terra e o maior ou maiores deles poderiam ter produzido mais de uma extinção em massa, e eventualmente inviabilizando os humanos.

Além dessa função de escudo, a Lua desempenha também um papel de âncora estabilizadora dos movimentos orbitais da Terra. Isso significa dizer que as coisas, de um ponto de vista de mecânica celeste, envolvendo a Terra, só são como conhecemos devido à presença estabilizadora da Lua.

Em datas como essa é natural certa especulação sobre o futuro da Lua. Em linhas gerais, o que deve ocorrer?

Uma aposta razoável é que o retorno à Lua deverá ser promovido pela indústria do turismo. Inicialmente com vôos em órbita da Terra, como já ocorre. Depois com viagens até a órbita da Lua, como aconteceu com missões que antecederam a Apollo 11. E, então com pousos na superfície lunar.

O Japão já cogitou planos para criação de um complexo hoteleiro na Lua, o que ainda rescende a pura ficção científica. Mas a China, com um programa espacial determinado e ambicioso, pode se apossar desse troféu com a ambição que caracteriza seus projetos.

Onde esses hotéis serão instalados?

Certamente na face visível da Lua e não no lado oculto (não existe um lado escuro da Lua como muita gente ainda acredita). Da face visível um turista do futuro poderá observar as luzes das grandes cidades da Terra e, mais que isso, contemplar a Terra como se fosse a própria Lua exibindo suas diferentes fases no céu.

Turistas que estão nascendo agora
No futuro não muito distante turistas espaciais privilegiados, que talvez estejam nascendo agora, poderão observar, por exemplo, a beleza da Terra em fase cheia, inundando o espaço próximo com a luz azulada produzida por sua atmosfera.

A tendência é de o lado oculto da Lua – resultado de interações gravitacionais que fazem com que um dia e uma noite lunares durem cada um duas semanas da Terra – ser preservado para observações científicas do espaço profundo, livre, por exemplo, de poluição no comprimento de onda de rádio que caracteriza a Terra.

Uma questão intrigante nestes momentos é, também, um grupo, ao que tudo indica decrescente de pessoas que se recusam a acreditar que tripulações humanas já desceram na Lua.

Como explicar esse descompasso em pleno século 21.

O ceticismo quanto a viagens tripuladas à Lua remete a uma idade pré-científica que ainda não se esgotou. No Brasil, por exemplo, o processo de urbanização só se consolidou nos anos 70. Antes disso, a maior parte da população vivia no campo, com hábitos influenciados pelo ritmo da Natureza, sem base científica para conceber que sistemas de propulsão como os foguetes que entronizam satélites em órbita da Terra, possibilitam viagens no aparente vazio do espaço.

E que essas viagens só estão começando.

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