quinta-feira, 16 de julho de 2009

Rochas trazidas pela Apollo ajudaram a responder perguntas sobre a Lua

Amostras de rochas da Lua trazidas pela Apollo 11 em 1969


(New Scientist / Folha) Enquanto o mundo assistia com fascínio à chegada de Neil Armstrong e Buzz Aldrin à Lua, cientistas só tinham olhos para outra conquista --para eles, o valor da missão estava no "bagageiro" da Apollo 11, nos objetos que seriam trazidos para a Terra. Durante a caminhada no satélite, os astronautas coletaram 22 kg de rochas lunares, o suficiente para preencher uma mala.

Outras cinco missões do programa Apollo trouxeram cerca de 382 kg de materiais, o que totalizou 2.200 amostras numeradas. Três sondas russas não tripuladas ainda recolheram cerca de 300 g do solo.

"Nossas ideias sobre formação planetária e evolução tiveram de ser rescritas do zero depois da Apollo", afirmou o geólogo Paul Spudis, do Instituto Lunar e Planetário de Houston, no Texas. Definitivamente, as amostras derrubaram muitos mitos sobre a Lua.

Harold Urey, ganhador do Prêmio Nobel e um dos grandes defensores da exploração lunar, havia previsto, por exemplo, que a Lua era feita de material meteórico primitivo --estava errado.

Algumas rochas se pareciam bastante com as encontradas na Terra, notadamente os basaltos escuros que dão aos chamados mares lunares (marias) sua tonalidade distinta. Outras eram bastante diferentes, como as rochas compostas por fragmentos de pedras preexistentes, chamadas brechas, que sofreram com impactos de meteoritos por milhões de anos.

Estudo árduo
Muitas das informações contidas nas rochas lunares levaram décadas para serem decodificadas --e algumas conclusões ainda são muito debatidas. Uma grande surpresa foi a evidência de que antigamente a Lua era coberta por um profundo oceano de rochas fundidas. As regiões montanhosas do satélite são dominadas por anortositos, um tipo raro de rocha que se forma quando minerais ricos em alumínio migram para a superfície de um "mar" de magma.

Atualmente, grande parte dos cientistas apostam na ideia de que a energia para a formação desse magma veio de um evento cataclismático ocorrido cerca de 50 milhões de anos depois que o Sistema Solar começou a se formar, quando a Terra estava ainda "na infância". Segundo essa hipótese, uma "proto-Terra" colidiu com um planeta do tamanho de Marte --destroços que entraram na órbita da Terra foram rapidamente aglutinados para formar a Lua.

Esse cenário levou a uma reavaliação radical da história do Sistema Solar. Antes do programa Apollo, cientistas viam a coleção de "objetos" que orbitam o Sol como um mecanismo em que as colisões eram raras e insignificantes. Agora, o sistema é reconhecido como um ambiente muito mais dinâmico, em que planetas podem se misturar ou colidir. Em nenhum outro lugar esse fenômeno é tão visível quanto na Lua.

Avanço
Sem as amostras trazidas da Lua para análises químicas, é possível que nunca fizéssemos essas descobertas-chave sobre a história do Sistema Solar. Todas as 2.200 amostras foram estudas e, segundo Randy Korotev, geoquímico da Universidade de Washington em Sant Louis, isso indica que há pouco a ser descoberto por meio dessas rochas. Entretanto, elas ainda podem revelar segredos mais sutis. "Constantemente, nós estamos desenvolvendo melhores ferramentas e fazendo perguntas melhores", afirma Korotev.

Instrumentos para datar amostras de mineiras ficaram mais sofisticados, permitindo que os cientistas determinassem a idade de amostras bem pequenas, como pequenos grânulos presos a uma rocha.

Origens
Nos últimos dois anos, essas técnicas permitiram novas descobertas sobre o assunto. Uma equipe do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça datou a formação dos oceanos de magma da Lua --e, por dedução, do próprio satélite-- em cerca de 4,5 bilhões de anos, entre 20 milhões e 30 milhões mais tarde do que se pensava. Alexander Nemchin, da Universidade de Tecnologia Curtin, em Perth, na Austrália, datou o zircônio encontrado na Lua em 4,417 bilhões de anos, o que permite indicar o provável período em que os oceanos de magma se solidificaram.

Entretanto, ainda há questões a serem respondidas sobre a Lua, que exigem mais amostras --por isso há razões para retornar ao local. "Não há falta de objetivos e questões científicas", afirma Gary Lofgren, curador da coleção de rochas lunares no Johnson Space Center, da Nasa, em Houston. "Isso não leva em conta só a Lua, mas também toda a história do Sistema Solar. Essa é a lição que aprendemos com a Apollo."

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